Entrevista com o historiador Antonio Ilson Kotoviski, autor do livro Relatos de um Tamandareense. A entrevista aconteceu no jardim de sua casa em Almirante Tamandaré localizada na antiga Estrada do Assungui, atual AvenidaVereador Wadislau Bugalski.
TRANSCRIÇÃO
Entrevista
concedida por Antônio Ilson Kotoviski
Filho à equipe da Pesquisa
Caminhos Históricos de Curitiba: A Estrada do Assungui, no jardim de sua
casa em Almirante
Tamandaré, no dia 05 de novembro de 2011.
LEGENDA: PE – Pesquisadores
AK – Antônio Kotoviski
AK – Meu nome é
Antonio Ilson Kotoviski Filho,
sou natural de Curitiba, porque nasci no Hospital Nossa Senhora de Fátima. Três
dias depois já estava em
Tamandaré. Sou morador de Tamandaré há 35 anos. Me formei em História. Também
sou formado em Direito, especialista em Historia do Brasil e mestre em Ciências
da Educação pela Universidade de Lisboa. Leciono em colégio estadual, 2 km da minha casa, no ensino
médio.
PE – Quando a
gente se aproximou do assunto da Estada do Assungui a gente descobriu uma
citação que é: Caminhos do Assungui, que é uma denominação mais antiga do que a
Estrada do Assungui. Qual é a relação que existe entre a Estrada do Assungui e esses
Caminhos do Assungui?
AK – As colônias
mais importantes de imigrantes da região norte de Curitiba estavam na região
compreendida entre Almirante Tamandaré e Campo Magro, mais em Tamandaré. Primeiramente
por causa da Lamenha, e também por causa da colônia Assungui, onde hoje é Cerro
Azul, que foi apadrinhada pela Princesa Isabel, tanto que recebeu estrutura
jurídica, tinha fórum, câmara, recebeu imigrantes. Existe até um grande número
de suecos, alemães, então era o caminho que fazia até chegar lá. E também
porque a carne que vinha para Curitiba vinha do Assungui através dos tropeiros
que passavam com as tropas de bois para ser abatido em Curitiba. Por isso
que é caminhos do Assungui. Nesses caminhos do Assungui existam bifurcações.
Uma levava até a Colônia Santa Gabriela, outras que levavam até a região do
Pacotuba, Barra de Santa Rita, outra que chegava até Areias, Tranqueira, então,
ao redor desses caminhos estavam as colônias, que por obrigação legal, tinham
que estar localizada ao redor de uma estrada de carroção.
PE – A próxima
pergunta tem a ver com a colonização, com essas colônias. Assim como a Colônia
Assungui, surgiram outras colônias ao longo da estrada. Você pode pontuar quais
são essas colônias?
AK – Vamos
começar pelo Abranches. Não chega a ser Colônia do Abranches propriamente dita,
mas ali é um foco de imigrantes poloneses, é só entrar no cemitério do
Abranches que já se pode observar que não tem como sair disso, era
exclusivamente de poloneses. A Lamenha Grande, que na verdade era Lamenha,
recebendo esse nome em homenagem ao presidente da província Lamenha Lins. Ali
também se concentrou, na década de 1870, uma grande quantidade de poloneses e
uma pequena quantidade de alemães. Mais tarde, ao redor, surgiu a Colônia Santa
Gabriela, que foi dividida entre italianos e poloneses. Outra região que
recebeu colônia, só que não era tão famosa, por causa do próprio lugar, é a
região do Botiatuva onde estamos agora, que também recebeu poloneses ao redor
dessa estrada. Mais pra frente no centro de Tamandaré, na região da restinga
seca, também recebeu imigrantes poloneses. Em direção ao Buchininga recebeu
pessoas, em Areias e Tranqueira a mesma coisa. A colônia oficial de nome é a
Lamenha, mas ao redor dessa estrada várias colônias apareceram, mas sem um nome
oficial. A história oficial, assim que ela surgiu em 1860, surgiu parte do
Largo da Ordem, segue pela Mateus Leme e trouxe o progresso. Na verdade ela foi
criada com o intuito de trazer o progresso. A história importante está
relacionada ao progresso da região, pois era por essa estrada que passavam as
tropas, a matéria prima para fazer casas, porque a cal era produzida aqui, eles
levavam a cal bruta para ser moída na capital. A história em si mostra também
que por essa estrada se desenvolveu a urbanização, tanto que ao redor de onde
hoje estão as colônias sofreu parcelamentos, porque com o tempo os descendentes
viam que não dava pra cuidar de terrenos tão grandes, começaram a parcelar,
pensando em dinheiro, brigas de família. Começaram a surgir os loteamentos,
alguns em locais impróprios, outros próprios, mas como a gente pode observar
pelo relevo de Tamandaré, a maioria dos loteamentos, se for levar a ferro e
fogo, não era nem pra ser aberto, porque o declive é muito grande. A história
relacionada à cultura, talvez a fé religiosa, por causa da capelinha de Santo
Izidoro, que era onde os poloneses se reuniam pra orações de novena e para
comemoração de aniversários. Foi nessa estrada também que se estabeleceram
comércios importantes, como os moinhos de cereais. Na verdade, antes se
plantava trigo aqui, então eles moíam numa produção voltada ao consumo próprio.
Trigo, milho pra fazer quirera,
fubá, canjica e outros produtos. Era pra isso que serviam os moinhos. Um moinho
importante ficava perto de Taboão, da família Weigert. Outros pontos comerciais
importantes são as mercearias. Tinha mercearia no Botiatuva, que vendia tudo
que se precisava, desde bicicleta, tudo vendido a granel, comida, arma, rádio,
roupa. Mercearia daquelas que a pessoa chegava no balcão e falava: “Quero tal
coisa”. Ao redor dessa estrada foi construído também um seminário, onde se
formavam padres capuchinhos, de 1938. Por essa estrada passavam tropas que
vinham do Assungui, fora as procissões que passam pelo Botiatuva, da Igreja do
Divino Espírito Santo, uma procissão pequena. Tem a antiga procissão de São
Cristóvão em 1969/67, que passava pela estrada do Assungui inicialmente. A
história é mais relacionada ao progresso. Quanto a contos, existem vários, mas
é outra realidade.
PE – Você lembra
de algum interessante? Alguma lenda...
AK – Tinha a
tradição do sábado de aleluia. Na época do sábado de aleluia geralmente a
piazada, os mais jovens da época, cortavam árvore pra jogar no meio do caminho,
pra ninguém passar. Tiravam as porteiras pra atrapalhar o pessoal que ía na
missa. Ás vezes, como as chácaras ficavam ao redor da Estrada do Assungui, eles
entravam nessas chácaras, abriam os galinheiros, tocavam as galinhas, abriam os
potreiros. Tem uma história, no Taboão, que eles trocaram a vaca por um touro.
O polaco foi, pela manhã, ordenhar a vaca e não viu que era um touro, um
problema grave. Essa é a história mais engraçada. Assim de lenda, não é bem
lenda, ao lado da Estrada do Assungui, cerca de 900 metros, as pessoas
que morriam de bexiga, varíola, em Curitiba, eram enterrados perto da pedreira
do Botiatuva. Mas na época não tinha pedreira, era a Lagoa dos Bugres, onde o
pessoal dizia que existiam muitos fantasmas. Foram encontradas referências que
pessoas eram enterradas ali para que não contaminasse lá na frente. A turma
dizia que via fantasmas. Isso estamos falando do século XIX.
PE – Sobre a
Estrada do Assungui especificamente, o que você poderia nos contar?
AK – A Estrada
do Assungui, inicialmente, ela surgiu por causa da Colônia Assungui, e uma das
condições na época para se habitar a Colônia Assungui era que os colonos
ajudassem a abrir a estrada. Então, o que ia se formando ao redor do caminho,
porque com certeza vieram pessoas antes, não oficialmente como colonos, morar
ao redor da estrada. Essas pessoas foram abrindo as estradas ao redor, pois era
uma das condições, tinham que ajudar a abrir a estrada, trabalhar pra pagar a
dívida que tinham inicial, para conseguir se assentar no Brasil. Mas em geral,
existiam pequenas trilhas de cavalos, porque a região já era uma concessão de
sesmarias. Por exemplo, aqui no Botiatuva pertencia à fazenda da família
Teixeira de Freitas já no século XVIII. Então já existia um pré-caminho. Muitas
das concessões eram estaduais, porque eram concessões que não foram tomadas
posse. Com o tempo, a turma sabia que existia, alguns vinham visitar, mas era
muito raro. Foi aberto conforme foram chegando pessoas pra abrir a estrada e
fazer até chegar no Assungui. Oficialmente ela surgiu por causa da Colônia
Assungui. A Estrada do Assungui ainda não é tão notória assim, mas como Tamandaré
tem uma hidrografia muito rica, grande parte desses caminhos foram ao redor do
rio, servindo como fonte, norteamento, e por consequência, um dos três
principais rios faziam parte do caminho do ouro. Por exemplo, o rio Passaúna,
que apesar de pegarmos o começo dele aqui, ele sai lá em Campo Largo, e lá teve
a mina de Itambé. Tem o rio Barigui, que apesar de não ter um caminho do ouro
específico, ele serviu para o Mateus Leme investigar, tanto que chegou até o
São Lourenço, e depois não continuou, porque era muita terra. Baltazar Carrasco
dos Reis exigiu uma parte, onde hoje fica o Butiatuvinha, Campo Magro. Como
referência também tem o rio Atuba, só que o rio Atuba pega bem na pontinha de
Tamandaré lá na Colônia Antonio Prado, Campina do Arruda. Essas estradas eram
conhecidas mais como atalhos, não era estrada como a gente vê hoje. Era tudo
atalho, com porteira, era complicado, e a Estrada do Assungui era mais utilizada
pelos colonos. Agora, quem morava na sede do município usava a estrada da
Cachoeira pra chegar até lá, apesar de ser mais dificultoso. Até 1950, outra
forma de chegar em Curitiba que era bem usada era a ferrovia.
PE – Qual foi a
influência, ou a relação, da ferrovia com a Estrada do Assungui?
AK – O objetivo
da ferrovia, como vocês já devem ter observado, era justamente transportar
matéria prima, alimentos, da região do Assungui, só que a ferrovia não chegou
até lá. Era pra chegar, mas por causa da II Guerra Mundial e outros problemas
acabou não chegando. Mas o objetivo inicial era esse. Era pra chegar e
transportar alimentos. Para Tamandaré, apesar de que a ferrovia deveria trazer
progressos, mas não trouxe. Serviu mais como transporte pra levar comunicação
de correio, que ficou rápida feita pela ferrovia, e transporte de calcário para
a capital e lenha para a termoelétrica que tinha no Capanema. Servia mais pra
isso. Para Tamandaré não teve um desenvolvimento, porque Tamandaré não tinha
indústria, quer dizer, tinha indústria de calcário, mas não era como a capital,
era muito complicado, estamos falando de 8 mil pessoas em 1950.
PE – O que você
acha que vale a pena a gente conhecer e mostrar para o pessoal?
AK – A paisagem,
em termos artificiais, são os moinhos, a capelinha, e tem algumas construções,
porque não se preservou todas as construções ao redor. Agora, em termos de
natureza, ela é muito importante. Ela já faz parte do circuito da natureza,
apesar de não estar escrito que a Estrada do Assungui faz parte, mas é por ela
que se chega nos principais parques. Por exemplo: pra chegar na piscina dos
padres, que é uma piscina de água natural do rio dos Padres, que é um dos
menores rios de Tamandaré, com 70 metros, no seminário dos padres, que apesar
de não ser um ponto turístico específico pra todo tipo de pessoa, é mais pro
pessoal de retiro, também é o caminho. Para chegar até o sindicato dos
comerciários, que é um parque bem bonito, com campo de futebol, se faz pela
Estrada do Assungui. Para chegar nos outros parques, no dos subtenentes do
exército, também é por ali, e no estádio, também é por ali. Tem a construção
dos fornos de cal, aqueles mais antigos, serve mais pra pessoa olhar, tirar
foto, mas é importante, pois mostra uma parte da história de Tamandaré. A
Estrada do Assungui tem, em termos culturais para a turma ver, é mais o lado natural,
vegetação, pra quem gosta de estudar botânica, os pinheiros com mais de 100
anos, é mais pra ver isso. Tem o turismo, que é mais relativo aos parques.
PE – Do governo
e da própria comunidade, como que está essa imagem pra quem usa a estrada. Como
que está a estrada hoje?
AK – A estrada
tem vários trechos. Por exemplo: o trecho novo da Wadislau Bugalski, ele
consegue seguir em boas condições até o cruzamento com a rodovia dos minérios.
Depois tem a Candido de Siqueira, ela tem boas condições porque é rodovia, ali
já é estadual. Agora, quando você entra em Tamandaré e vai pegar a Pedro
Teixeira Alves, que era o antigo Caminho do Assungui, já começa ver
deficiências. Quando sai da Pedro Teixeira Alves, uns 800 metros, você já cai
em estrada de chão, e então depende muito do mês. Tem mês que a prefeitura
passa. Como é ligado ao sindicato dos comerciários, sempre tem um olhar
especial dos governantes. Agora, quando sai do sindicato, chegou no Buchininga,
sai do sindicato e entra pela estrada, Venda Velha, já começa a complicar,
porque a estrada ainda tem os traçados originais e lá ela desbarranca muito.
Então até chegar em Tranqueira, é só estrada de chão, é uma pista pouco
movimentada. Não está muito bem conservada nesses pedaços.
PE – E o
interessante pra estrada, uma possibilidade, como você falou, de exploração do
turismo, alguma coisa assim...
AK – Tentam. O
sindicato coloca como exploração, o pessoal utiliza muito pra tentar abrir
hotel fazenda, restaurante, só que o problema é que a turma bate com a questão
da violência. O pessoal olha na Tribuna e acha que Tamandaré é uma terra sem
lei. Na verdade não é bem assim. Tem os fatos específicos na região da
cachoeira, mas não é em
toda Tamandaré, então a turma fica com medo, acha que vão
roubar o carro no caminho. Na verdade não tem isso. Isso que atrapalha. Não é
tanto a infraestrutura, é mais o medo da turma que não conhece, acha que é
longe, só que é mais perto que o Pinheirinho.
PE – É mais
então essa imagem de degradação social que tem, violência, que acaba
dificultando o processo de desenvolvimento, ocupação, novos moradores, novos
visitantes.
AK – É, se você
observar que nossa cidade recebe muita pessoa do norte do Paraná, eles são como
nômades, não ficam muito tempo aqui. Então, você olha no município: esse ano
deu 100 mil habitantes. No outro ano está com 90 mil. É muita gente que fica
por aqui dois anos e se manda. Não consegue ficar muito tempo aqui. Então
geralmente fica nas áreas de loteamento que a princípio são irregulares, mas
que foram legalizados na década de 70, 80, porque são terrenos baratos. Pelos
fatos sociais, às vezes falta emprego, às vezes se envolvem com violência, bar,
briga, e fica concentrado ali. Nosso pessoal, a maioria dos repórteres,
jornalistas, por serem ligados com política e alguns morarem aqui, o que
acontece: nos programas específicos de televisão, fazem um show, em volta de
problemas que você encontra no Boqueirão, no Parolim, que é igual, só que lá
não recebe tanta atenção, porque aqui dá voto, lá eles tem concorrência.
PE – Sobre a
Ponte do Taboão, de onde veio esse nome?
AK – Para
atravessar o Rio Barigui, como não tinha um tráfego muito grande de pessoas
como é hoje, inicialmente utilizavam tábuas muito grossas. Por isso Taboão. Tábua
grossa. Mas tem quem diga que é por causa de uma plantinha chamada Tabula,
então não se sabe ao certo o que é, mas pelos moradores antigos, que falavam
que antes da terceira ponte eram umas tábuas de madeira onde passavam carroças,
esse que é o pequeno detalhe. A ponte nova é de 2005. Só a estrutura é nova,
porque a que passa normal é da década de 90.
PE – Itaperuçu
na época era Rio Branco do Sul. O que eu te pergunto é: a partir do momento que
surge a ferrovia, e você no seu livro fala que a ferrovia condiciona o traçado
da Estrada do Assungui. A Estrada do Assungui também acompanhava a ferrovia
passando por Itaperuçu ou a ía mais direto à Rio Branco do Sul.
AK – Não
funciona assim. A ferrovia acompanhou algumas partes da estrada da Cachoeira,
desde o centro, e a estrada da Cachoeira automaticamente acompanhou a ferrovia
porque eles precisavam de trechos de manutenção. Então como é trecho de
manutenção, está aberto, o pessoal passava ali e abria a estrada. Quando a
ferrovia passou em Tamandaré e pegou a Estrada do Assungui, já tinha a estrada
de manutenção, porque era a própria Estrada do Assungui. Até chegar em
Tranqueira e Itaperuçu a ferrovia margeia exclusivamente a Estrada do Assungui.
Então, a Estrada do Assungui, na verdade, serviu de estrada de manutenção da
construção. A da Cachoeira não. Teve parte que a ferrovia serviu para fazer o
traçado da Estrada da Cachoeira. Do Assungui não. A ferrovia sempre acompanhou.
PE – A partir de
Tranqueira a Estrada do Assungui vai por Itaperuçu, a partir do cruzamento com
a BR-277, passa por Itaperuçu e depois segue até Rio Branco do Sul. Diz pra
gente qual é esse traçado então, a partir de Curitiba o traçado, sem citar
nomes de ruas, mas diz pra gente: até chegar na Colônia do Assungui, Cerro
Azul, qual é o traçado da Estrada do Assungui?
AK – Começa na
Mateus Leme, chegando no Abranches. Vira a esquerda do cemitério do Abranches e
cai na própria Mateus Leme, até chegar no Taboão, onde pega a Wadislau, segue
reto, passa por debaixo da Rodovia dos Minérios, onde vai mudar o nome para
Raquel Candido de Siqueira, antes ela virava, com a construção da rodovia do
calcário foi feito um viaduto, tem que fazer um contorno. Passa pelo terminal
de Tamandaré, pega a Coronel João Candido, caindo na Teixeira Alves, que era o
caminho natural, você vai pegar a Rua Antonio Bini e vai sair na Gideão, segue
reto até chegar no sindicato. Por causa da década de 30, que foi fechado o
caminho que margeava a ferrovia, a Volta Grande, tiveram que pegar o caminho da
estrada da Venda Velha, e então pega a estrada de Tranqueira, uma estradinha em
direção à Rodovia dos Minérios. Atravessa ela e pega a Estrada do Bento
Quimeli, segue reto. (Observações no mapa) Pegou a Raquel, passa pela Coronel
João Candido, Teixeira Alvez, Antonio Bini, vai seguir a estrada do Buchininga,
até a estrada da Venda Velha. Aí ele vai quebrar um pouquinho, no Itaperuçu.
Vocês já vão ver que tem que acompanhar a linha (ferrovia), é sempre
acompanhando a linha. Em geral, se você acompanhar a linha, é o traçado da
Estrada do Assungui, com exceção quando chega no sindicado ela muda, mas já
volta.
PE – Sobre a região de Tranqueira, qual a origem
desse nome?
AK – Como
naquela época passava muita tropa, então era costume na estrada ter tranca, que
não é pra proteger, como hoje, que a gente protege contra bandido, pra ninguém
invadir, na verdade era mais para a tropa não dispersar, para os bois não
correrem. Só que a tranca de Tranqueira era diferente, porque era um posto de
cobrança de imposto que ficava no meio do caminho. Então o pessoal utilizava o
nome Tranqueira como nome pejorativo, que era o que eles não gostavam. Era
odiada porque tinha que pagar imposto, por isso recebe o nome Tranqueira.
PE – A rotina
era quebrada quando passava a boiada, vinda do Assungui, com destino ao
frigorífico Blumenau. Fala um pouco sobre isso.
AK – Isso aí são
histórias do meu pai, quando o vô tinha mercado, não era como hoje, que o
vendedor trazia, que vinham os caminhões de Curitiba, você tinha que buscar no
centro. O que acontecia: o Frigorífico Blumenau ficava onde fica o Mercadorama,
onde era pra sair a penitenciária que vocês falaram, e ali eles iam buscar
linguiça, carne, derivados de carne de boi, e também era pra onde iam as
boiadas, tanto que onde era o São Lourenço tinha um curtume. O pai até brincava
que o nome da mulher era Banheira, o nome da mulher do dono, porque ela era
desse tamanho, era grande, por causa da banha né, banheira, eles brincavam. O
dono era um alemão grande, gordão, chegava sempre com um pedaço de lingüiça.
PE – Então o
curtume, a fábrica de cola, o boutim, tem uma relação com o frigorífico?
AK – Sim, tem
uma relação com o frigorífico e com essa boiada, porque não tinha esse
movimento de hoje. Tinha as carroças dos conhecidos, que passava determinada
hora pra parar e tomar uma pinga na mercearia, e aí passava a boiada, que
parava tudo, porque tem que parar. As carroças tinham que sair do caminho, por
isso chamava atenção.
PE – Uma coisa
que me chamou atenção é que a rua Mateus Leme passa em frente ao colégio Santa
Maria, e aqui nos fundos do Recanto Marista. Achei interessante essa relação
que ao longo da Estrada do Assungui existem duas ocupações dos Irmãos Maristas.
AK – Na verdade tinham
três, porque a Escola Nossa Senhora das Graças do Botiatuva era mantida pelos Irmãos
Maristas. Era uma escola antiga, no terreno ao lado da igreja redonda, a do
Divino Espírito Santo, na divisa com a Pedro Jorge Kotoviski. Os Maristas já
catequizavam, tinham uma região missionária aqui, antes dos capuchinhos. Inclusive
no Juruqui, tem o Parque Primavera que é dos Maristas, então eles tem uma
relação antiga com a região.
PE – Sobre as
colônias que se relacionam com a Estrada do Assungui...
AK – A Lamenha, a
Santa Gabriela, essas duas estão ligadas diretamente ao Assungui. Agora, São
Venâncio, que é a mais antiga, e Antônio Prado, que é da mesma época da Santa
Gabriela, é do lado da estrada da Cachoeira.
(Descrição de
fotografias)
(FINAL)
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