O comércio de gêneros alimentícios ainda é uma característica forte da Rua Mateus
Leme. Entre os estabelecimentos pioneiros que continuam em atividade até os dias atuais estão a
Churrascaria Ervin de 1950, que a época de sua abertura funcionava como bar e sorveteria, e o
Bar do Victor que em 1979 instala-se na rua servindo casquinhas de siri, bolinhos de camarão e
variados pratos de peixes.
Em entrevista a Revista Where Curitiba no ano de 2007, o proprietário do Bar do Victor
afirma que seu bar, “como em vários casos, começou com um estabelecimento fazendo sucesso.
Depois, outros empresários chegaram, aproveitando o fluxo de pessoas, a disposição dos clientes
de vir até a região em busca de frutos do mar, a condição de trânsito de Curitiba à época.” [1]
Uma questão curiosa que aparece nas fontes de jornal é a tentativa de transformar um
trecho da Rua Mateus Leme em pólo de gastronomia praiana, buscando identificar o lugar com o
slogan de “Rua da Praia”. Em 1987, os empresários instalados ao longo dessa rua decidiram
formar um novo centro gastronômico para a cidade, colocando placas de bares e restaurantes,
muitos deles anunciando a venda de frutos do mar.
A idéia era fazer da rua um centro gastronômico ordenado e atrativo. Em entrevista
cedida para esta pesquisa, Vilma Ofner, filha dos fundadores do restaurante Ervin, comentou o
assunto:
“Fui em duas reuniões que foram lá na Bavarium, quando era aquela cervejaria (...)
foram feitas lá duas reuniões, para mudar o nome da rua para Rua da Praia, mas não deu
certo. Essa reuniões eram de todos os restaurantes da Mateus Leme, mas daí não sei se
mudou a prefeitura, não sei o que que,..., olhe, que não foi adiante, mas já estava assim
bem adiantado, todo o estudo, como que iam ser as calçadas com mesinhas, como agora
tem né, mas na época não tinha nenhuma. [2]
No ano de 1985 o jornal Correio de Notícias tinha a manchete que dizia: “Mateus Leme,
uma rua com sabor de pecado”. A chamada pitoresca era sustentada na matéria pela ironia de um
frequentador dos restaurantes locais que dizia “até o Abranches é o caminho do peixe, do rio em
diante é o caminho do espermatozóide”, fazendo referência a Rodovia dos Minérios onde se
localiza uma grande cadeia de motéis. E continua: “a orla em expansão, com um mar que nunca
esteve tão para peixes, tem padroeiro e termina afrodisíaco, na rota dos motéis, num roteiro de
cama e mesa”. O padroeiro ao qual a manchete se refere trata-se do seu Victor, o proprietário e
cozinheiro que com o pastelão “B-A- BA” tornou-se o romeiro do peixe. [3]
Em meados da década de 80 era inegável a constatação de que ali era mesmo o local que
informalmente foi batizado de Rua da Praia. Remetendo-se a época do seu Victor ainda pode-se
ter uma dimensão do movimento e da agitação do espaço. Em 1983 houve a transação curiosa
entre o “romeiro do peixe” e o empresário Cecílio Rego de Almeida. Cecílio sentindo-se
incomodado com o barulho causado pelos clientes do bar, propôs a troca do terreno de Victor,
com 480 metros quadrados, na Rua Mateus Leme, pelo seu, com 1.700 metros quadrados, na rua
transversal. Troca feita, foi inaugurado o maior bar da cidade na época: O Bar do Victor.
Hoje, ao passearmos pela Mateus Leme, nos deparamos com uma série de restaurantes e
bares distribuídos ao longo da rua, iniciando no bairro São Francisco e indo até o São Lourenço.
Já na década de 1950 as estatísticas do IBGE apresentam os bares e os armazéns de secos
e molhados como a mais numerosa atividade comercial da Rua Mateus Leme, o que aponta para
um uso que já se faz tradição.
A maior parte dos restaurantes e lanchonetes presentes na rua atendem especialmente a
um público de moradores e trabalhadores da região, voltados, sobretudo, para o almoço
executivo. Adentrando o bairro São Lourenço encontramos ainda alguns restaurantes tradicionais
da cidade, que atraem um público não só local mas também de outras regiões, com movimento
especial nos finais de semana. Dentre eles, alguns são voltados para a culinária de peixes e frutos
do mar, característica que já rendeu à rua Mateus Leme o slogan, na publicidade e mídia, de Rua
da Praia.
Restaurante Saccy e Bar Brasileirinho, ambos na quadra inicial da Rua Mateus Leme, no Largo da Ordem.
Casa térrea com sótão construída no início do século XX, em terreno de esquina, atual Mannus Restaurante.
Casa térrea de esquina construída em 1950 para abrigar o antigo Bar-Sorveteria Ervin, atual Churrascaria Ervin. É o restaurante mais antigo da rua, em atividade há mais de 50 anos.
Casa térrea de esquina, atual Pizzaria Predileta. Marca a transição do conjunto gastronômico para outro de caráter mais ambiental, no entorno do Parque São Lourenço.
Restaurante Casarão Leme
Cervejaria da Vila
Dallas Lanche Bar
Mercearia Fantinato
Restaurante Rei do Camarão
Restaurante Divino Rango
Seraphin Gastronomia
Notas:
[1] COTOVICZ, Marina. Mateus Leme: a praia de Curitiba. Revista Where Curitiba. Curitiba, julho de 2007.
[2] OFNER, Vilma. Entrevista concedida à pesquisa Caminhos históricos de Curitiba: A Estrada do Assungui.
Curitiba: 13 de março de 2012.
[3] Correio de Notícias, Curitiba, 16 de agosto de 1985.
Fotos: Gabriel Gallarza / Acervo: Casa da Memória - FCC
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